Recuperação em “V”: primeiras evidências da retomada do setor do vestuário

[vc_row][vc_column][vc_column_text]O setor de confecção produzia em média 9 bilhões de peças (de vestuário e artigos de casa) por ano no Brasil, e chegou a faturar US$ 48,3 bilhões em 2018, segundo dados da Abit (Associação Brasileira da Industria Têxtil e de Confecção). As expectativas de crescimento anual para o setor eram de, em média, 3,0% para a produção de artigos confeccionados e de calçados, e 3,3% para o varejo desses segmentos, de acordo com o IEMI (Instituto de Estudos e Marketing Industrial). Contudo, o setor foi fortemente abalado pela Covid-19, principalmente nos meses de março, abril e maio, o que ensejou a revisão das expectativas.

Durante o período mais intenso da epidemia no Brasil, o impacto no setor do vestuário pode ser observado a partir de três importantes variáveis: o nível da produção física da indústria, o volume de vendas no comércio e o saldo de empregos. Passados os primeiros meses, no atual estágio de retomada gradual de diversas atividades econômicas, os dados apontam para uma certa recuperação do setor.

Em janeiro e fevereiro desse ano, quando a doença e as medidas de contenção da Covid-19 se restringiam (em maior grau) ao território chinês, o choque foi sentido pelo setor nas relações comerciais com a China. Por se tratar de um dos maiores países exportadores de artigos do vestuário, desde os tecidos até a roupa confeccionada, a desaceleração das atividades industriais na China repercutiram em um desabastecimento da cadeia de confecção em outras regiões do mundo[1].

No início da epidemia no Brasil, uma pesquisa realizada em março pela Abit com os empresários das industrias têxtil e de confecção revelou os impactos imediatos no processo produtivo, tais como o cancelamento e o adiamento das compras dos clientes, as alterações no custo e desabastecimento dos insumos da produção e no escoamento dos produtos. Além disso, o comércio exterior da maioria das empresas pesquisadas (64%) também foi impactado e 85% das empresas tiveram suas participações em eventos (feiras, convenções, seminários, etc) canceladas.

Passados alguns meses desde esse início, os dados evidenciam é que, de fato, os efeitos negativos da pandemia na indústria, comércio e mercado de trabalho do setor foram significativos, principalmente no período de março a junho. Mas, a partir de julho, os dados sinalizam uma recuperação do setor, conforme pode ser conferido na análise a seguir.

No acumulado de janeiro a julho desse ano, as quedas na produção física da indústria nacional foram de -20% para têxtil, -36% para confecção e -34% para couro e calçado, em comparação com o mesmo período do ano passado. Mas, com a retomada gradual das atividades econômicas é possível observar um processo de recuperação recente da fabricação no setor. A indústria nacional de confecção, têxtil e calçado ainda não está produzindo no mesmo nível pré-pandemia. Porém, tudo indica que os piores patamares da atividade produtiva nacional ocorreram nos meses de abril e maio e, de junho em diante, essa indústria vem recuperando lentamente o fôlego.

Gráfico 1 – Índice de produção física das indústrias de confecção, têxtil e calçado, Brasil[2]

*Período referente de março de 2019 a fevereiro de 2020.
Nota: Índices de base fixa com ajuste sazonal (2014=100)
Fonte: PIM-PF/IBGE
Elaboração própria

Do ponto de vista das vendas no comércio varejista, o setor do vestuário foi um dos mais afetados pela redução de consumo no período de crise. Além das roupas não serem produtos priorizados pelas famílias quando há redução de renda (em detrimento de alimentos e remédios), o fechamento das lojas e o cancelamento de muitos eventos por causa do distanciamento social, também foram fatores que contribuíram para a queda no consumo de tecidos, roupas e sapatos. Mas, assim como na indústria, os indícios são de que os volumes de vendas no comércio nacional e capixaba estão caminhando para patamares de pré-pandemia, como pode ser observado no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Índice de volume de vendas no comércio varejista de tecidos, vestuário e calçados, Brasil e Espírito Santo

*Período referente de março de 2019 a fevereiro de 2020.
Nota: Índices de base fixa com ajuste sazonal (Base: média de 2012=100)
Fonte: PMC/IBGE
Elaboração própria

Olhando especificamente para o mercado de trabalho do setor, por ser uma atividade industrial de alta relação trabalho/capital, a crise provocou muitas demissões em todo o país e não foi diferente no Espírito Santo[3]. O saldo mensal de empregos, resultado da diferença entre as admissões e os desligamentos, atingiu níveis negativos elevados em abril e maio, e voltou a recuperar-se em julho e agosto. No estado, após os saldos negativos na indústria de confecção (-717), têxtil (-47) e calçado (-167) no mês de maio, em agosto os três segmentos apresentaram saldos positivos de 26, 27 e 4 vagas, respectivamente.

Gráfico 3 – Saldo mensal de postos formais de trabalho na indústria de confecção, têxtil e calçado, Espírito Santo

Gráfico 4 – Saldo mensal de postos formais de trabalho na indústria de confecção, têxtil e calçado, Brasil

Fonte: Caged
Elaboração própria

Como resultados mais imediatos, os gráficos apresentados demonstram uma recuperação em formato de “V” do setor do vestuário. Logo no início da pandemia muitos analistas especularam este comportamento (queda intensa, de curto prazo e retomada em seguida) para as principais economias no mundo. Passados alguns meses, alguns especialistas cogitam a possibilidade de desempenho se assemelhando ao formato de “W”, porém com a expectativa de que a segunda queda seja menos intensa que a primeira. Entre os fatores de risco atuais que colocam em questão a recuperação das atividades em todo o mundo está a ameaça de novas ondas de contágio (tal como o aumento recente nos números de novos casos na Europa). Porém, dado o aprendizado até o momento, espera-se que seja possível evitar um novo quadro de lockdown a partir de adoção e manutenção de medidas preventivas gerais (como o uso de máscaras, o distanciamento social e a higienização das mãos e superfícies) e restritivas locais se necessárias (como antecipação do horário de fechamento de bares, restaurantes e shoppings).

 

Referências

Associação Brasileira da Industria Têxtil e de Confecção. Abit. Enquete com os empresários do setor têxtil e confecção: Nova avaliação sobre os impactos do Coronavírus. Disponível em: https://www.abit.org.br/uploads/arquivos/Nova%20avaliacao%20impactos%20Covid.19.pdf. Último acesso em: 30 out. 2020.

General Administration of Customs People’s Republic of China. Statistics. Disponível em: http://english.customs.gov.cn/statics/report/preliminary.html . Último acesso em: 02 jul. 2020.

Instituto de Estudos e Marketing Industrial. IEMI Inteligência de Mercado. Mercado de Moda e o Impacto do Coronavírus na Demanda dos Brasileiros. Disponível em: https://www.iemi.com.br/mercado-de-moda-e-o-impacto-do-coronavirus-na-demanda-dos-brasileiros/. Último acesso em: 02 jul. 2020.

[1] Somente no primeiro bimestre de 2020, as exportações (para todo o mundo) de roupas e têxteis da China caíram -18,7%, em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com General Administrations of Customs of China.

[2] As séries apresentadas se referem à indústria nacional, uma vez que a cobertura da PIM-PF para o Espírito Santo não abrange os segmentos de confecção, têxtil e calçado. Veja mais sobre as limitações dessa pesquisa para o estado no Boletim Econômico Capixaba nº 30 em: https://portaldaindustria-es.com.br/publicacao/411-o-boletim-de-fevereiro-explica-quais-sao-as-limitacoes-da-pim-pf-para-retratar-a-industria-do-es

[3] Especificamente sobre o Espírito Santo, o setor do vestuário é historicamente relevante para o processo de desenvolvimento do estado. De caráter social, as confecções são responsáveis pela alta empregabilidade de mão de obra feminina e, portanto, importantes para muitas famílias em que as mulheres são a principal fonte de renda.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_cta h2=””]

Jordana Teatini é economista, mestre pela Ufes e analista do Ideies.

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Economista, Doutora pela FGV-SP e Mestre pela UFRGS, com experiência em pesquisa econômica e atuação no Ideies desde 2017. Lidera o Observatório da Indústria da Findes, referência em inteligência analítica e desenvolvimento industrial no Espírito Santo.

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